Passagem Literária da Consolação
Julián Fuks
Chamemos de mal-estar nas livrarias. Sei que não sou o primeiro a sofrer desse infortúnio, sei que não serei a última de suas vítimas. Em algum inventário de novas patologias há de estar descrito esse desconforto específico, a um só tempo intenso e sutil, que pode acometer o sujeito que vagueia entre longas estantes de volumes lustrosos e apelativos. Uma náusea, talvez, uma ânsia cuja causa é difícil de distinguir: algo na ordem excessiva dos livros, em sua prontidão obediente, algo em sua evidente hierarquia. Quanto maior a loja, quanto mais transparentes suas vitrines, mais forte o sentimento – mas nas pequenas livrarias de rodoviárias e aeroportos o mal pode alcançar dimensões imprevistas.
Estou certo de que o fenômeno se alastra por uma centena de países, mas também de que ele encontra em São Paulo uma de suas áreas endêmicas. Os habitantes ainda letrados da cidade, obrigados às grandes cadeias e suas megastores intransponíveis, quase não dispõem de alternativas para passear livremente entre livros e perpetrar suas aquisições costumeiras. Dispõem, no entanto, de um ligeiro antídoto – ou de um consolo, como o nome sugere. Cruzando por baixo uma das principais avenidas, a Passagem Literária da Consolação oferece um alívio para pulmões entupidos de tanta purpurina, um respiro com a poeira dos velhos livros esquecidos. Nada de ordem mercantil; apenas a desordem própria da vida. Nada de imagens e slogans chamativos; apenas umas quantas capas desbotadas pelos dias. Nada de preços extorsivos; apenas o valor imprescindível aos bolsos de um punhado de livreiros organizados em cooperativa.
Claro, ninguém encontrará ali o último lançamento do escritor pop do momento, ou obscuras raridades apreciadas pelos críticos. Também não chega a ser uma tradição das mais longevas: não posso inventar longas tardes que passei naquela galeria em leitura ininterrupta, entregue às letras e seu prazer impoluto, e sua indelével pedagogia. Devo ser sincero: não é sequer um dos meus habituais destinos. Mas toda vez que passo ao acaso por ali sinto que algo se distende em mim, que algo em meu íntimo enfim se consola, que posso seguir meus passos e meus dias bastante mais tranquilo.
*
Passagem Literária da Consolação: passagem de pedestres na esquina entre as avenidas Consolação e Paulista.
* *
Imagens: Julián Fuks
* *
[ + bar ]
Hegira
Adam Morris
Slakers shambled along the coasts, the brine in the breeze searing nostrils, lashing cheekbones and the edges of eyelids, whittling parts of faces to... Read More »
Natalia Litvinova
translated by Andrés Alfaro
DUST
My voice seems not to come from me but rather from another throat buried within the depths of my own. I am like a... Read More »
Prairie Lights [iowa city]
Hugh Ferrer
For as little as $140, anyone now can now buy his or her own little bookstore—for that is essentially what an e-book reader is: a combination... Read More »
Instructions for Navigating in amongst The Dead, followed by a Requiem
Paola Cortés Rocca on Bruno Dubner’s Las Muertas (The Dead) translated by Jennifer Croft
1. Images are wily: they don’t lay out facts, don’t make any cases. They’re indolent and... Read More »